Fruto de um trabalho
de três meses, a imagem de um índio que viveu na região de Brejo da Madre de
Deus, Agreste pernambucano, há cerca de dois mil anos, foi apresentada na Universidade
Católica de Pernambuco (Unicap) na noite dessa terça-feira (24). A
reconstituição facial do indivíduo, batizado como Flautista por ter sido
encontrado com um objeto de osso perfurado semelhante a uma flauta, foi
possível graças à tecnologia 3D empregada por meio do software Blender, um
programa de computador gratuito de modelagem, animação, texturização,
composição, renderização e criação de aplicações interativas. Ainda neste ano,
outros componentes do acervo da universidade devem passar pela mesma
transformação.
O crânio do índio
estava no Museu de Arqueologia da Unicap desde 1983, quando foram realizadas as
primeiras descobertas arqueológicas na Furna do Estrago, em Brejo da Madre de
Deus. No local, que tem 125 metros quadrados de área – sendo 76 metros
quadrados com a possibilidade de escavações – foram encontrados 83 esqueletos,
a maioria tem idades entre 20 e 24 anos.
O Flautista, porém,
tem idade aproximada de 45 anos. “Isso indica que ele era um indivíduo com
idade avançada na época. Possivelmente, era um ancião para a tribo”, afirmou o
professor de história, Flávio Moraes.
Quando viu o
resultado do trabalho, o índio Makairy Fulni-ô ficou emocionado. “Cheguei a me
arrepiar quando a imagem surgiu. Nossa relação com a ancestralidade é muito forte,
então ver um antepassado nosso assim causa emoção. Ele é um ancestral não só
nosso, mas de todos os brasileiros”, ressaltou. A tribo Fulni-ô, de Águas
Belas, acompanhou a apresentação da pesquisa e agradeceu cantando a música
Jesus Cristo, famosa na voz de Roberto Carlos, em yaathe, língua materna dos
fulni-ô.
Além de
historiadores, o processo de transformação do crânio em uma imagem de como
seria a figura do indígena contou com a participação de profissionais de outras
áreas, como o médico Pablo Maricevich, cirurgião plástico e especialista em
reconstrução facial no estado.
Para chegar à imagem,
o designer Cícero Moraes, de Chapecó (SC), fez um trabalho em seis etapas, que
durou uma semana. Ele é autor da exposição Faces da Evolução, uma série de 13 painéis
com modelos de rostos de hominídeos, que já foi exibida no Museu Egípcio e Rosa
Cruz, em Curitiba, além de já ter sido realizada na Itália e no Peru.
O designer e a
coordenadora do Museu de Arqueologia da Unicap, Roberta Richard Pinto, já estão
em contato para futuras parcerias. O objetivo, agora, é transformar todo o
acervo arqueológico da universidade em imagens como a do Flautista. “Temos a
intenção de fazer uma reconstituição grupal com outras figuras do museu e, em
seguida, fazer uma exposição”, adiantou Cícero.
FONTE: DIÁRIO DE PERNAMBUCO
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